Até as primeiras décadas do século 20, Palmeira das Missões não tinha do que se queixar. Em quase 300 anos de história, acompanhou os três principais ciclos da formação econômica e social do Estado. Trocou a fase dos ervais nativos pelo tropeirismo. Mais tarde, deixou os caminhos dp gado para entrar de cabeça na colonização e voltar à extração vegetal com a exploração da madeira.
"Palmeira é o município síntese do Rio Grande do Sul", diz o historiador Mozart Pereira Soares. Mesmo não tendo a garantia de ter sediado uma Redução dos Jesuítas, o território de Palmeira certamente foi visitado pelos índios que as habitavam. As densas áreas de erva-mate interessavam aos padres espanhóis desde 1633, ano da primeira referência escrita sobre o uso da planta. No Rincão de São João, 15 quilômetros ao norte da cidade, a abundância de ervais evidenciava que a região estava no mapa de riquezas da Companhia de Jesus. Sem se descuidar da exploração dos ervais, os jesuítas também introduziram a criação de gado nas Missões. Os guaranis cuidavam de imensos rebanhos até serem dizimados pelos portugueses, que passaram a ter direito sobre os Sete Povos das Missões com a assinatura do Tratado de Madrid (1750).
Milhares de cabeças de vacas e mulas soltas nos pastos chamaram a atenção dos novos donos da terra. Por volta de 1816, os bandeirantes estabelecem uma terceira rota para conduzir os animais até São Paulo. O pouso dos tropeiros e as grandes manchas de campo com rebanhos selvagens tornam Palmeira das Missões alvo das atenções dos mercadores do "ouro mível". Para controlar o negócio de perto, alguns paulistas instalam-se na região, apropriando-se de terras devolutas. Um século depois, a instalação da Comissão de Terras e Colonização de Palmeira das Missões trans transforma pela terceira vez a face do município. A partir de 1917, as áreas despovoadas do norte (Iraí, Seberi, Nonoai, Frederico Westphalen) começam a ser ocupadas pela terceira onda de colonização do Estado. Famílias inteiras de italianos, alemães, poloneses e russos entram com requerimentos de propriedade na Comissão.
Depois de trabalharem para abrir as estradas que os levariam até os lotes, os imigrantes descobrem que precisam ainda limpar o terreno. Começa o desmatamento. As árvores nativas são derrubadas e passam a engrossar o orçamento doméstico. Com o surgimento das colônias, Palmeira está pronta para caminhar com as próprias pernas.
Seis da manhã de l de janeiro de 1925. Nas terras da Fazenda da Ramada, a 39 quilômetros do centro de Palmeira das Missões, o capitão Luiz Carlos Prestes e centenas de soldados revoltosos iniciavam um confronto contra as tropas Governistas. O combate mais sangrento da Coluna Prestes se estendeu por 12 horas, deixou mais de 100 homens feridos e custou ao movimento militar a vida de outros 50. Na sede da fazenda, um empregado com pouco mais de 10 anos de idade não entendia por que o Exército queria ipedir o avanço daqueles 4 mil homens que acamparam perto da propriedade "Nem uma vaca eles chegaram a carnear ", garante Abrão Machado dos Santos, 82 anos. Um dia antes, o menino havia sido salvo por um rebelde. "Os civis que acompanhavam a Coluna iam me degolar quando um sargento acudiu", lembra. Apenas um túmulo, que marca o ponto onde os dois lados enterraram seus combatentes, continua de pé na Esquina dos Becker, atual município de Condor.
Origem: Material recolhido do fascículo especial do jornal Zero Hora, do dia 04/12/96, chamado "Origens do Rio Grande", tendo sido as reportagens efetuadas por:
James Marlon Görgen, Clarissa Eidelwein, Théo Rochefort, Klécio Santos, Marcos Fonseca, Luciane Ferreira, Mauro Maciel, Carlos Fonseca, Carlos Bindé, Marielise Ferreira, Itamar Pelizzaro; edição de Moisés Mendes e Mário Marcos de Souza; arte de Leandro Maciel, planejamento gráfico de Daniel Dias e Luiz Carlos Py; coordenação de Clóvis Heberle.
Editado por Roberto Cohen em 20/11/2003.